A luta contra a invisibilidade neste Primeiro de Dezembro

Rodrigo Pinheiro
Presidente do Foaesp

Em breve estaremos em mais um Dia Mundial de Luta contra a Aids, quando ativistas do mundo todo mobilizam seus esforços chamando a atenção das autoridades, e da população em geral, para o avanço da epidemia de Aids. O laço vermelho, tradicional símbolo de solidariedade, estará presente na lapela de milhares de pessoas ao redor do planeta, a mídia repercutirá a data e manifestações serão organizadas.

No entanto, o desafio maior desta vez é manter viva a atenção em relação a uma doença que mata anualmente quase 12 mil pessoas e infecta mais de 42 mil, em nosso País. O avanço nas populações mais vulneráveis - sobretudo pobres, jovens e populações periféricas, se reflete na falta de atenção da sociedade sobre o tema, antes dado como resolvido através de ações comunicacionais e políticas que vendiam a falácia de controle de algo que não estava controlado.

O maior exemplo deste movimento de invisibilidade veio em maio deste ano com a mudança de nome do departamento que tratava da Aids, hepatites virais e outras infecções sexualmente transmissíveis (IST), no Ministério da Saúde. Ao reunir estas e outras patologias num setor genérico chamado “Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis”, se transforma uma história de mais de 30 anos em uma repartição burocrática e se reforça a invisibilidade sobre um problema de dimensões nacionais.

É irresponsável esta atitude que revela uma tentativa de não trazer a Aids para o cento do debate da Saúde Pública e dos Direitos Humanos. A estratégia de torná-la invisível leva ao pensamento da inexistência e a consequência disso serão mais casos, mais adoecimentos e mais mortes. A onda conservadora que avança no Brasil encontra nesta atitude uma de suas expressões, levando para “debaixo do tapete” temas que não são agradáveis de tratar, pois envolvem formas de vida e estilos de comportamento moralmente recriminados pelos setores retrógrados da sociedade brasileira. No entanto, a garantia constitucional de que a saúde é “um direito de todos e um dever do Estado” e a observância do princípio da equidade no Sistema Único de Saúde são bases para que a promoção da saúde ocorra pelo debate de temáticas relevantes, levando os grupos atingidos a participar da implementação de políticas sintonizadas.

Neste primeiro Dia Mundial de Luta contra a Aids após esta perversa mudança de nome e de rumo, queremos reafirmar que a Aids existe, que mata, que faz sofrer e que somente ações conjuntas poderão captar as subjetividades que a envolve e, assim, amenizar seus reflexos e promover a vida com qualidade.