Com dois pontos na pauta, o Fórum das ONG/Aids do Estado de São Paulo (Foaesp) realizou na manhã desta quarta-feira (1), reunião extraordinária com suas associadas; cerca de 25 delas estiveram presentes. Autoteste para a detecção para o HIV e a relação Covid-19 e HIV foram os pontos da pauta.

Mariana Villares fez a apresentação do autoteste pelo Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DCCI), do Ministério da Saúde e Maria Clara Gianna e sua equipe apresentaram o insumo pelo Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo. O infectologista Álvaro Furtado Costa, do CRT-DST/AIDS-SP, falou sobre a relação entre a Covid-19 e o HIV.

Em sua apresentação, Mariana Villares contextualizou a estratégia em projeto piloto do DCCI para disponibilização às populações mais vulneráveis à infecção pelo HIV. Também, mostrou o retorno que têm as enquetes sobre os procedimentos para o uso do insumo, além de destacar os fatos de que a maioria da população acessada com o autoteste de detecção do HIV está entre pessoas mais jovens e 28% nunca haviam feito um teste de HIV.

Da coordenação do Programa Estadual de DST/AIDS de São Paulo, a Dra. Maria Clara Gianna apresentou como a distribuição do autoteste está sendo implantada no estado, ressaltando que a coordenação do programa estadual está articulada com os municípios a fim de garantir um acesso ágil à confirmação e ao tratamento, se necessário. Entre os pontos acrescentados Karina Wolffenbuttel, o de que as ONG têm acesso diferenciado às populações mais vulneráveis, o que poderia favorecer a diminuição de uma pequena dificuldade que algumas pessoas têm de seguir as orientações escritas nas bulas do insumo.

Após as apresentações, o presidente do Foaesp, Rodrigo Pinheiro questionou se a distribuição do insumo terá consistência e se há efetivo compromisso com a garantia de retaguarda às pessoas diagnosticadas para o teste confirmatório e para o tratamento, se for o caso.

Carla Diana, da Associação Prudentina de Prevenção à Aids – APPA, questionou o respaldo legal que as ONG têm com a distribuição do insumo, principalmente a jovens, bem como o respaldo das gestões dos programas de aids municipais às ONG, principalmente em relação ao acolhimento à pessoa diagnosticada.

Do Grupo Pela Vidda São Paulo, Eduardo Barbosa trouxe uma avaliação bastante positiva de aceitação do autoteste. Segundo ele, o Grupo recebeu 1400 embalagens do insumo e já distribuiu mil delas durante este momento de pandemia de Covid-19. Barbosa também trouxe o relato de um morador de rua que procurou o insumo e depois retornou com o resultado negativo como feedback.

Américo Nunes Neto, do Instituto Vida Nova informou que a ONG fornece o autoteste e está tendo boa receptividade. O presidente do GIV, Claudio Pereira, fez relato no mesmo sentido.

Por fim, foram dados alguns encaminhamentos. A coordenação do programa estadual dispôs-se a articular uma reunião remota com a gestão federal, as gestões municipais do estado e as ONG para afinar as possibilidades de as ONG também disponibilizarem o autoteste.

O Foaesp preparou ofício às gestões federal e estadual da política de aids com cinco pontos para encaminhamento:

  1. O Foaesp considera o autoteste para detecção do HIV um insumo de extrema importância, por agregar mais uma estratégia de prevenção à mandala da prevenção combinada ao HIV;
  2. Estamos convencidos da importância das organizações não-governamentais na distribuição do insumo, uma vez que alcança populações vulneráveis sem acesso ou com acesso restrito aos serviços públicos de saúde, tais como populações em situação de rua, usuários e usuárias de drogas, profissionais do sexo e travestis e transexuais em extrema vulnerabilidade social, além de jovens vivendo em periferias e em bolsões de miséria e pobreza;
  3. Para que as ONG possam disponibilizar o insumo em suas ações, consideramos a necessidade de avaliação interna da organização, de sua capacidade institucional de assumir a distribuição, pois é necessário que a ONG se coloque ao lado do/a usuário/a até que o vínculo com o serviço de saúde seja efetivado;
  4. Preocupa-nos, entretanto, o fato de o autoteste fazer parte de um projeto piloto. Consideramos a necessidade de o governo federal tornar a estratégia uma política pública a fim de garantir sua disponibilidade às populações acima citadas e à população em geral;
  5. É necessário, ainda, que as ONG tenham o respaldo legal para a disponibilização do insumo, além de articulação e parceria com a gestão e os serviços locais.

 

Covid-19 e HIV
Na segunda parte da reunião extraordinária, o infectologista Álvaro Furtado Costa falou sobre a relação entre a Covid-19 e o HIV. Antes de mais nada, o médico sublinou que não gosta do termo ‘grupo de risco’, preferindo a palavra ‘vulnerabilidade’ por considerá-la mais apropriada.

Segundo ele, a pergunta sobre a vulnerabilidade do HIV ao coronavírus é antiga, desde 2004 com o coronavírus anterior.

Furtado Costa falou rapidamente sobre os estudos sobre o tratamento da Covid-19 com antirretrovirais citando mais detalhadamente estudo espanhol com tenofovir, que tem, ao que parece, molécula parecida com a do remdesivir, medicamento que melhores resultados têm tido em estudos de tratamento da Covid-19.

O médico relatou que no início da pandemia uma parcela das pessoas vivendo com HIV tinham medo de buscarem seus medicamentos nos serviços, mas que isso já foi superado e também apresentou estudo multicêntrico que está coordenando no CRT-DST/AIDS-SP que vai analisar o perfil epidemiológico, clínico e o padrão de evolução da infecção pelo SARS-Cov-2 e da Covid-19 em pessoas vivendo com HIV/Aids em sete serviços de referência no tratamento do HIV.

Por fim, perguntado sobre os melhores testes para a detecção da Covid-19, o Dr. Álvaro indicou o PCR de teste sanguíneo. E recomendou que não se comprasse o vendido em farmácias, que não têm sensibilidade suficiente para detecção do novo coronavírus.