O Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DCCI), do Ministério da Saúde, deve lançar edital para o financiamento de projetos de ONG/Aids até o final do mês. A informação foi trazida na reunião ordinária do FOAESP, na manhã desta sexta-feira (17), por seu presidente, Rodrigo Pinheiro.

De acordo com Rodrigo, os recursos que a sociedade civil reivindica do DCCI para trabalhar com as pessoas afetadas pela Covid-19 devem ser articuladas entre o departamento do Ministério da Saúde e o Ministério da Cidadania, diretamente.

Já o edital do Programa Estadual de DST/Aids de São Paulo patina nos meandros burocráticos da Secretaria de Estado da Saúde. Segundo Alexandre Gonçalves, da coordenação do PE-DST/Aids-SP, espera-se a agenda de dois funcionários do departamento jurídico da secretaria para que seja finalizado o processo de publicação do edital de projetos. Gonçalves transmitiu a informação ao final da reunião ordinária desta manhã.

Durante os informes, além da informação sobre o edital do DCCI, Rodrigo informou que a demanda sobre a dispensação do autoteste para detecção do HIV, está sendo encaminhada. Também que nesta semana já teve duas reuniões com as gestões estadual e federal das políticas de enfrentamento às IST, HIV/Aids sobre a pauta do fortalecimento dos SAE. A boa notícia é que o deputado Alexandre Padilha (PT-SP) sugeriu que o recurso fosse incorporado à Lei de Diretrizes Orçamentária, de que trata o orçamento da União, ou por emendas parlamentares. As alternativas continuam em discussão.

As ONG presentes à reunião ordinária também foram informadas sobre pesquisa sendo desenhada, que deve trabalhar a questão HIV e Covid-19, a ser coordenada pela pesquisadora Dra. Maria Amélia Veras, da Santa Casa de São Paulo.

O FOAESP está acionando o Ministério Público para questionar a posição do Ministério da Saúde em face das recentes declarações de seu Secretário de Atenção Especializada em Saúde relacionadas a aquisição de insumos de saúde com “sobrepreço”.

Aids virtual 2020
A pauta contou com a apresentação de destaques da 23ª Conferência Internacional de Aids, a Aids 2020, que neste ano foi realizada de forma virtual, durante a semana passada. Jorge Beloqui (GIV, RNP+) e Simone Tenore e Denize Lotuffo, trouxeram seus destaques.

Beloqui destacou as apresentações de estudos sobre HIV e Covid-19 (o estudo do Bronx, em Nova York está publicado aqui). Ele também destacou discurso da ex-presidente da Irlanda, Mary Robinson, a respeito do comportamento, em reconhecer que temos que nos cuidar e cuidar dos outros a quem podemos fazê-lo. Segundo Jorge, um discurso não apenas de valorização da ciência, mas a um pensamento de modo crítico, que seja submetido ao conhecimento científico.

O ativista do GIV e RNP+ fez uma comparação entre o remdesivir, da farmacêutica Gilead, medicamento com os melhores resultados em estudos de tratamento da Covid-19, que concedeu licença voluntária de fabricação a 127 países – apenas três na América Latina –, mas que já impôs um preço de R$ 12.400,00 por tratamento. Como fez, segundo Beloqui, com o sofosbuvir. Atualmente, o medicamento é parte dos medicamentos para o tratamento de cura da hepatite C e que, quando incorporado no Brasil, apenas pessoas em determinados estágios da doença podiam ter acesso ao medicamento por conta dos preços praticados pela Gilead.

Jorge destacou ainda estudo sobre defeito do tubo neural de recém-nascidos de mães em uso de dolutegravir (DTG), medicamento que, segundo disse o ativista, não pode ser administrado em mulheres grávidas com HIV no primeiro semestre de gestação. Um tanto assustador quando da publicação de resultados preliminares, há cerca de um ano, por ter encontrado até 0,9% de defeito do tubo neura em bebês nascidos de mulheres com HIV em uso do DTG. Os defeitos do tubo neural em recém-nascidos com DTG chegaram a 0,2%. Nascidos com defeitos do tubo neural de mães sem HIV chegam a 0,1%.

O mesmo estudo foi destacado por Denize Lotuffo e Simone Tenore, do PE-DST/Aids-SP. As médicas destacaram estudo com o islatravir, para PrEP e tratamento, um nucleosídeo da família do AZT, porém mais potente e de maior tempo de ação: uma injeção subcutânea poderia ter efeito protetor por cerca de um ano.

Estudos sobre o tenofovir alafenamida (TAF) comprovaram seu menor efeito colateral em ossos e rins e já está aprovado no Brasil pela Anvisa para o tratamento da hepatite B. Segundo a dra. Tenore, é preciso olhar com cuidado para o medicamento devido ao ganho de peso, maior incidência de diabetes e deslipidemias.
Outro estudo comparou o DTG + tenfofovir (TDF) + entricitabina (FTC) e DTG + TAF + FTC, que cujos participantes tiveram até 80% de redução de carga viral se comparados com o efavirenz no lugar do DTG.

Também, do Lenacapavir, um inibidor do capsídeo (cápsula) do HIV, uma nova classe de medicamento.
Os resultados do Estudo Tango propõem a simplificação da terapia antirretroviral com apenas dois medicamentos no lugar de três – para a primeira linha, apenas a pessoas sem falhas medicamentosas – com lamivudina e DTG, excluindo o TDF, associado a triglicérides e colesterol altos.

Também repercutiu na Aids 2020 os resultados do estudo HPTN 083, com o cabotegravir, um inibidor de integrase injetável, aplicado a cada dois meses na PrEP e com pouquíssimas reações adversas. Um dos questionamentos, no entanto, dizem respeito justamente à meia vida longa da droga no caso de interrupção da PrEP, pois uma pessoa pode não ter concentração suficiente para se proteger do HIV, mas suficiente para provocar uma resistência em contato com o HIV.