CEM DIAS SEM NADA

Rodrigo Pinheiro
Presidente Foaesp

Chegamos aos cem dias do governo Bolsonaro. Eleito democraticamente com quase 58 milhões de votos, se espera que o governante pense forma global e coletiva, entendendo os problemas da população e promovendo a união em torno dos grandes temas nacionais. Infelizmente o que se verificou ficou longe da promoção da paz e da inclusão social, mas os primeiros meses do atual mandato se caracterizam pela truculência, amadorismo e falta de maturidade politica na condução dos grandes problemas nacionais.

Do ponto de vista dos Direitos Humanos assistimos a retrocessos imenso tanto do ponto de vista formal com o encolhimento de ações e diminuição da importância desta pauta, como do ´ponto de vista simbólico oriundas de declarações desastradas da atual ministra. Se em governos anteriores debatíamos a necessidade de avanços, neste nem a garantia de continuidade das conquistas estão asseguradas e diariamente somos ameaçados por polêmicas vazias que visam desviar a atenção dos problemas vividos. O esvaziamento dos espaços de controle social refletem esta estratégia que quer calar a voz da sociedade civil, cercando as decisões governamentais apenas de simpatizantes dóceis as barbaridades propostas.

O combate a pobreza e a fome, luta correlatada ao enfrentamento da aids no Brasil, sofre constantes revezes desde a ameaça do final do Benefício de Prestação Continuada, passando pela extinção do Conselho Nacional de Segurança Nutricional e Alimentar até o os equívocos da ministra da Agricultura, sobre o número de mangas nas ruas das cidades brasileiras, desconhecendo completamente a realidade nacional.

No âmbito do enfrentamento da aids a novidade da realocação de outros programas debaixo do guarda-chuva do departamento de IST/HIV/Aids e hepatites virais, faz inchar uma máquina já cansada e sobrecarregada e, sem que haja acompanhamento orçamentário adequado e autonomia de ações, corremos o risco de perda de visibilidade de um problema social grave. Aumentar as letras na mesma sigla do setor competente não garante integração nem ações conjuntas e, além disto, o crivo social e moral que a aids se circunda precisa de visões muito além das biomédicas para seu equacionamento.

O veto presidencial ao Projeto de Lei 10159/18 , que dispensa de reavaliação pericial a pessoa com HIV/Aids aposentada por invalidez, complementa a forma pela qual a lógica do Governo Federal tem funcionado. A predominância do lucro e da formação de superavit acima dos direitos das pessoas e muito além da seguridade social. Alicerçado num modelo capitalista, onde a obtenção de lucro é o objetivo principal, o governo se esquece das incapacitações que a Aids gera, sobretudo aos atingidos pelo preconceito, a exclusão social e o estigma que persiste além de um quadro de carga viral zerada.

Os primeiros três meses do atual governo foram dias de espanto, de revolta e de tristeza. As ameaças constantes tornam os mais vulneráveis enfraquecidos, e alvos da violência estatal patrocinada pela industria armamentista. O silenciamento das vozes contrarias se verifica nas ações do Estado que escolhe aliados para a recepção de apoio e enfraquece movimentos que atuam de forma crítica. Enquanto os pobres e excluídos a faceta " tigrão" surge de forma predominante, aos donos co capital, financiadores de campanha e milicianos amigos a gestão Bolsonaro continua cada vez mais posando de " tchutchuca".