Por Rodrigo Pinheiro (*)
É extremamente relevante o artigo “São Paulo na luta contra a aids: buscando fazer mais e melhor!”, assinado pelo prefeito Bruno Covas e publicado nesta semana pela Agência de Notícias da Aids, pois, mais do que mostrar o comprometimento da municipalidade na ratificação da Carta de Paris, explicita a sensibilidade com que a cidade de São Paulo acolhe as populações vulneráveis à infecção pelo vírus da aids e as pessoas que vivem com HIV.
No entanto, para avançar efetivamente na resposta à epidemia, são necessárias ações intersetoriais, uma vez que a aids tem afetado mais fortemente as populações vulneráveis mais pauperizadas, em maior vulnerabilidade social. Não se pode falar em controle da aids sem combater a pobreza que assola essas populações; não se pode falar de pobreza sem falar em aids, sombra que cresce nas periferias, nas favelas, nos bolsões de miséria que rodeiam a cidade de São Paulo.
O crescimento da aids entre essas populações torna o quadro de exclusão ainda pior. Um jovem homossexual terá sua vulnerabilidade multiplicada se for negro, se viver na periferia e se sua família for religiosa. As pessoas em situação de rua, as desempregadas, as vítimas da exclusão e das famílias sobrevivendo sem condições mínimas de dignidade sentem cada vez mais a aids avançar em seu cotidiano.
Não se pode desconsiderar que a pobreza é um agravante sobre o estigma que aumenta as vulnerabilidades dessas populações. A exclusão pela sorologia ou orientação sexual se torna maior diante da pobreza, pesa de forma mais intensa e gera menos autoestima e autonomia nas pessoas que vivem com HIV, em particular.
Às dificuldades de acesso aos serviços de saúde, ao diagnóstico e ao tratamento se somam a carência de alimentação, de saneamento, de educação de qualidade, de mobilidade e transporte e, sobretudo, de oportunidade de emprego e renda.
O projeto “Cartografando a qualidade dos serviços de DST/Aids do município de São Paulo”, elaborado e desenvolvido pelo Foaesp (disponível em http://bit.ly/cartografandoSP), tem apontado lacunas importantes da cidade na resposta ao HIV. Um usuário que percorreu diversos serviços municipais de atendimento especializados (SAE) em DST/Aids em busca de tratamento do HIV até encontrar uma “porta aberta” é apenas um exemplo.
No ano passado, o Foaesp solicitou ao prefeito, por meio de ofício, que pudessem ser aproveitados nos SAE municipais profissionais aprovados no concurso público da Autarquia Hospitalar Municipal realizado em 2017.
Portanto, ações intersetoriais das secretarias municipais da Saúde, Assistência Social e Direitos Humanos, entre outras, são fundamentais para contribuir com os compromissos paulistanos assumidos na Carta de Paris, fazer mais, melhor e acabar com a aids como problema de saúde pública até 2030.
(*) Presidente do Fórum das ONG/Aids do Estado de São Paulo (Foaesp).