O Fórum das ONG/Aids do Estado de São Paulo (Foaesp) vem por meio desta nota lamentar e repudiar as ações desenvolvidas nesta semana pelas igrejas "Dínamus" e "Edificando em Cristo", na Praça da República, centro de São Paulo.
Enquanto há mais de três décadas ações diversas tentam diminuir o preconceito direcionado às pessoas que vivem com HIV e Aids, as organizações prestam um desserviço utilizando-se do símbolo da solidariedade, que é o laço vermelho, numa analogia sensacionalista e equivocada ligando-o ao suicídio. Além disto, a pregação de que o casamento seria a melhor forma de prevenção e a abstinência sexual o método ideal para evitar qualquer infecção sexualmente transmissível (IST), cai no ponto incansavelmente debatido sobre o respeito e a liberdade de escolhas das pessoas, a autodeterminação em decidir por sua vida e pelos próprios atos. O respeito à diversidade de pensamento e de atitudes é a base da saúde pública e dos direitos humanos.
Esquecem os organizadores que na cidade de São Paulo vivem cerca de 50 mil pessoas com HIV/Aids, que somente no ano passado foram quase 5 mil novos casos e que este número poderia ser maior se não fossem as ações da sociedade civil, dos governos do estado e do município e outras parcerias que atuam na busca de conscientização do autocuidado, através do uso contínuo do preservativo. Quantos destes casos viviam uma aparente harmonia familiar e arriscaram a saúde e a vida? A irresponsabilidade de evitar os meios de prevenção, com o uso dos insumos ofertados gratuitamente, é imensa e certamente culpada por parte das mais de 2 mil mortes que a Aids causa a cada ano na capital paulista.
Mais estranho é a liberação pelo Poder Público, do espaço da Praça da República, para realização de atividades que misturam saúde e fé contrariando inclusive orientação e prática da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, que realiza extenso trabalho de prevenção e combate ao preconceito. O próprio prefeito Bruno Covas foi presidente da Frente Parlamentar de Aids, quando era deputado estadual, e integrou a Frente no Congresso Nacional, quando teve cadeira na Câmara dos Deputados.
Apelamos ao prefeito para que observe a intenção dos promotores de eventos deste tipo, causadores de confusão e semeadores de medo entre a população, e aos dirigentes das duas organizações chamamos ao diálogo colaborativo para que a junção de forças possa possibilitar mais vida com qualidade a população em geral e mais respeito e solidariedade a todos e todas que vivem com HIV.
Rodrigo Pinheiro
Presidente