CAMPANHAS DE MASSA DEVEM VIR ACOMPANHADAS DE AÇÕES EFETIVAS

 

Em relação a campanha do Ministério da Saúde (MS), que chama atenção para a prevenção das infecções sexualmente transmissíveis (IST) por meio do uso consistente do preservativo, o Fórum das ONG/Aids do Estado de São Paulo (Foaesp) se manifesta:

- Já há muito tempo, em diversos espaços de controle social, temos alertado o descaso oficial em relação ao enfrentamento do tema. Não adianta propagar um autocuidado maior se não houver uma maior valorização dos profissionais de saúde que garantam o atendimento de retaguarda, além da consequente busca de informações e ações de comunicação consistente.

Além disto, a garantia de acesso a medicamentos - sobretudo à penicilina benzatina, e outros medicamentos para clamídia e gonorreia, em falta no sistema de saúde recentemente -, é fundamental para qualquer tratamento efetivo que vise romper a cadeia de transmissão e possibilite a recuperação do quadro de saúde de pacientes com IST.

Diante da diminuição dos pedidos de preservativos pelos municípios causada pela diminuição da procura pelo insumo, realidade notada no estado São Paulo mas presente em outras regiões, impõe-se a necessidade da implantação de novas metodologias que incentivem o uso do preservativo, adequadas às realidades de cada população.

No entanto, a retomada de uma logística de distribuição é fundamental para isso, dada a grande defasagem de tempo nesta operação. Desde o ano passado que o MS não tem enviado a cota de preservativos necessária ao estado, como relatou pela primeira vez em agosto de 2018 o Programa Estadual em reunião ordinária do FOAESP. A responsabilização de estados e municípios em sua aquisição é fundamental, inclusive com a utilização dos recursos da Programação das Ações e Metas (PAM) para isso.

O insumo é fundamental para que se garanta o ressignificado de seu uso, principalmente neste momento em que velhas estratégias parecem não prosperar e novos paradigmas precisam ser repensados, refletindo nas informações disseminadas pela imprensa e por institutos de pesquisa do decréscimo do uso de preservativos entre a população, sobretudo entre os jovens.

A falta de sensibilidade dos gestores tem sido a grande responsável para o agravamento deste quadro e, por mais que alertemos sobre esta visível realidade, poucas ações foram realmente implementadas.

Campanhas de massa que objetivem chamar a atenção para a prevenção de doenças são sempre muito bem vindas. No entanto, devem ser acompanhadas de ações efetivas que garantam sua continuidade, caso contrário correm o risco de se limitarem a ações localizadas que visam apenas destacar determinado fato sem repercussão efetiva e mudança de comportamento que venha a refletir num quadro de melhoria da qualidade de vida da população.

 

Rodrigo Pinheiro

Presidente do Fórum das ONG/Aids do Estado de São Paulo