O Fórum das ONG/Aids do Estado de São Paulo (Foaesp) vem a público manifestar sua posição em relação ao recente material, veiculado pelo Ministério da Saúde, relacionado à prevenção da transmissão do HIV e outras IST, além da gravidez indesejada.

Diante do cenário retrógrado e conservador do atual Governo Federal, a nova campanha de incentivo ao uso do preservativo é um hiato de sobriedade entre vários episódios bizarros que o tema do exercício da sexualidade tem gerado recentemente.

No entanto, mais uma vez a estratégia do medo e da culpabilização volta a ser utilizada numa campanha governamental, apesar dos constantes retornos de sua fraca efetividade. A batida tática de indicar culpados, tão presente no início da epidemia de Aids nos anos 1980, retorna constantemente à cena, eximindo-se assim os gestores públicos de abordagens mais direcionadas às populações vulneráveis e da promoção de reflexão aprofundada sobre práticas sexuais e a abordagem da sexualidade nos tempos atuais.

Além disso, o protagonismo feminino na iniciativa do uso do preservativo é esquecido pela campanha. Ao centrar na figura masculina, a iniciativa esquece da necessidade de reconhecimento e valorização do empoderamento de meninas e mulheres, aptas a decidir sobre sua vida sexual.

Aliás a diversidade da população brasileira, em sua grande heterogeneidade de gênero não é retratada na campanha que, por conta disto, não oferece nenhuma colaboração na promoção da eqüidade.

Por fim, cabe salientar que a participação da sociedade civil na elaboração de peças deste tipo, algo tradicional no passado, parece ter desaparecido das últimas campanhas promovidas.

Responsável por grande parte das ações de prevenção, sobretudo onde a mão do Estado não alcança, as organizações de base comunitária poderiam oferecer importantes subsídios para a recepção de uma mensagem mais identificada.

A utilização dos custos elevados de uma iniciativa deste tipo deve sempre vir acompanhada de estudos de recepção, que garantam a identificação com a população a qual a iniciativa é direcionada, além de análises posteriores com a finalidade de verificar se a efetividade da comunicação foi obtida. Fora isto, corre-se o risco de direcionar recursos públicos sem que o objetivo seja atingido, enquanto permanece espaço para a desinformação e a dúvida.

São Paulo, 10 de fevereiro de 2020.

Rodrigo Pinheiro
Presidente