Vários especialistas têm traçados pontos em comum entre o avanço do coronavírus e o advento da Aids, na década de 1980. A mobilização mundial, a defesa dos Direitos Humanos dos grupos afetados e a corrida em busca de medicamentos, que barrem as mortes, são algumas das questões afins, mas do ponto de vista da ação continuada a busca de trabalho intersetorial é uma das principais lições que a atual pandemia precisa incorporar na sua agenda.
Aprendemos ao longo destas décadas que o somatório de área (Saúde, Educação, Trabalho, Direitos Humanos, Cultura etc) é fundamental para que a resposta a qualquer drama social seja dada de forma mais efetiva e organizada. Além da área governamental, a articulação da sociedade civil- onde ecoam todas as demandas da população afetada, e a participação de outros setores como as academias e iniciativa privada são de extrema importância. A tentativa de trabalho isolados não apenas enfraquece o alcance de qualquer iniciativa, como abre possibilidades de desperdício de recursos financeiros e humanos.
Diante da experiência acumulada, com 24 anos de atuação, o Fórum das ONG/Aids do estado de São Paulo (Foaesp) tem procurado promover esta iniciativa de cooperação. Em recente reunião remota com a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo se discutiu a busca da intersetorialidade não apenas em relação as Pessoas que Vivem com HIV/Aids, mas também para as populações mais vulneráveis como Pessoas em Situação de Rua, Usuários Abusivos de Drogas e População Prisional e egressos. Esta iniciativa servirá de paradigma de uma mudança de abordagem, mais integradora e complementar, não restrita apenas a " apagar incêndios" diante de demandas estruturais.
Também o enfrentamento de outras patologias, de importante presença na população, como as hepatites virais, a tuberculose e os transtornos de saúde mental devem seguir este modelo, pensando ações mais amplas de cuidado e reinserção social além dos mero uso de medicamentos. Pensar o cidadão como um todo é fundamental para que as soluções sejam construídas, tendo sempre como balizador a participação destes segmentos na construção de políticas públicas que irão lhe atingir.
Nestas quatro décadas de ativismo na luta contra a Aids, o somatório de experiências têm apontado várias lições que superam as estratégias para conter o HIV. Diante de uma pandemia que nos assusta e desafia saber colher os frutos plantados pode ser vital para a busca do cuidados tão desejado com as pessoas, que são o objetivo maior de nosso trabalho e deveria ser o foco principal de qualquer política pública.
Rodrigo Pinheiro
Presidente Foaesp